A escalada autoritária de Nicolás Maduro nos últimos dias indica de forma cada vez mais clara que ele não parece disposto a ceder o poder de forma pacífica, caso perca as eleições do próximo domingo (28) na Venezuela.
Existem vários elementos que mostram que ele já está fazendo de tudo, incluindo discursos e ações autoritárias, para impedir uma possível vitória da oposição.
Na terça-feira (23), Maduro voltou a adotar uma retórica violenta, falando mais uma vez que sua eventual derrota levaria a “um banho de sangue” no país.
Trata-se de uma óbvia tentativa de intimidar a oposição e os seus eleitores, já que o líder venezuelano é também o comandante-em-chefe das Forças Armadas do país.
Na mesma toada, ele rebateu as críticas feitas esta semana pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se disse “assustado” com a menção à frase “banho de sangue”.
Em entrevista à imprensa estrangeira, Lula também afirmou que já havia alertado Maduro duas vezes sobre a necessidade de ele respeitar o resultado do processo democrático.
Como resposta, o líder autocrático foi desrespeitoso ao afirmar, em comício eleitoral no estado de Cojedes, que “quem se assustou que tome um chá de camomila”.
Além disso, o venezuelano chegou a afirmar que as urnas eletrônicas no Brasil não são auditáveis –uma fake news já amplamente rebatida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que faz auditorias constantes e públicas nas máquinas de votação.
Censura e presos políticos
Mas existem elementos muito mais reais do que as ameaças verbais, entre elas a censura à imprensa e a prisão de opositores.
Nada menos do que 60 sites de notícias estão censurados pelo regime venezuelano, sendo que 12 deles foram retirados do ar desde o início da campanha eleitoral, no dia 4 de julho.
É um claro atentado à liberdade de expressão, com o objetivo de esconder críticas ao regime e seu líder por jornalistas independentes e membros da oposição.
Para piorar, a ONG Laboratório de Paz afirma que mais de 70 prisioneiros políticos foram alvo de detenções arbitrárias desde o início formal da campanha.
O grupo é composto por políticos opositores e assessores deles.
Há, inclusive, informações sobre um suposto atentado contra a líder da oposição, Maria Corina Machado, que teria tido os cabos do freio de um carro onde viajaria cortados nos últimos dias.
Corina Machado, inclusive, foi impedida pela Justiça (controlada por Maduro) de concorrer às eleições.
Na sequência, Corina Yoris, escolhida para representar Machado, sequer conseguiu registrar sua candidatura na comissão eleitoral (também controlada por Maduro).
Apesar disso, a oposição se uniu em torno do nome de Edmundo González, um ex-diplomata candidato pela Plataforma Unitária.
E isso levou Maduro a adotar posições ainda mais violentas.
Afinal, a disputa de domingo será o teste mais duro de seu regime nas urnas, enfrentando uma oposição finalmente unida.