Os protestos dos agricultores chegaram ao coração da União Europeia na quinta-feira (1º), enquanto os líderes do bloco realizavam uma reunião crucial na qual concordaram sobre um novo financiamento para a Ucrânia.
Os manifestantes chegaram a Bruxelas, na Bélgica, nos seus tratores nas primeiras horas da manhã antes de se reunirem em frente ao Parlamento Europeu, onde ocorria a cúpula, tocando buzinas, atirando ovos e provocando incêndios.
Vários tratores ficaram estacionados perto do Parlamento da UE durante toda a semana, antes de comboios de todo o país convergirem na manhã de quinta-feira.
Alguns dos manifestantes incendiaram objetos em frente ao edifício do parlamento, enquanto outros seguravam cartazes com slogans que incluíam: “Sem agricultores, sem comida”. A polícia disse que cerca de 1 mil tratores eram esperados na capital belga para a manifestação planejada, alertando sobre “problemas de trânsito” na área.
Embora as questões agrícolas da UE não façam parte da agenda da cúpula, os manifestantes pretendem exercer pressão sobre o bloco para que as suas reclamações sejam ouvidas.
Os agricultores têm pedido por um afrouxamento das regras que regem a política agrícola compartilhada do bloco, dizendo que não recebem o suficiente, estão sendo sufocados por impostos e restrições ambientais e enfrentam concorrência desleal do exterior – incluindo importações agrícolas baratas da Ucrânia. A UE renunciou a quotas e direitos sobre as importações ucranianas após a invasão da Rússia.
Renaud Foucart, professor sênior de economia na Universidade de Lancaster, na Inglaterra, disse à CNN que existem duas questões abrangentes que os agricultores que protestam enfrentam.
“Uma delas, que se dirige principalmente aos agricultores do leste europeu, é o receio de que o trigo e muitos outros produtos agrícolas que entram no mercado vindos da Ucrânia sejam uma concorrência desleal e eles gostariam de obter algum protecionismo por isso”.
De acordo com Foucart, para os agricultores dos países da Europa Ocidental a principal questão são as medidas ambientais que estão sendo introduzidas no âmbito do Acordo Verde da UE, que, segundo eles, irão sobrecarregá-los com custos e regulamentações adicionais.
“Esses agricultores gostariam de obter alguma forma de isenção disso, alguma forma de compensação”.
O primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, classificou as preocupações dos agricultores como “perfeitamente legítimas”.
“Como vocês viram, há um grande protesto de agricultores em Bruxelas. Precisamos ser capazes de discutir esse tema no Conselho, porque as preocupações que eles têm são perfeitamente legítimas”, disse. “A transição climática é uma prioridade fundamental para as nossas sociedades. Precisamos ter a certeza de que os nossos agricultores podem ser parceiros nesse processo”, disse De Croo na chegada à cúpula.
Protestos temabém ocorreram nos últimos dias na Itália, Espanha, Romênia, Polônia, Alemanha, Portugal e nos Países Baixos.
Na Grécia, tratores marcharam na quinta-feira em direção à segunda maior cidade de Thessaloniki, na esperança de bloquear as principais rotas dentro da cidade.
Na França, os agricultores continuam os seus bloqueios nas estradas fora de Paris e perto das cidades de Lyon e Toulouse.
De acordo com a BFMTV, afiliada da CNN, 91 pessoas foram detidas na quarta-feira (31) por obstruir o tráfego e causar danos perto do mercado de Rungis, ao sul de Paris, um importante centro de distribuição de alimentos. Segundo o governo francês, mais anúncios são esperados “nos próximos dias”.
Na quinta-feira, o recém-nomeado primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, anunciou novas medidas para a indústria agrícola, incluindo apoio financeiro, em uma coletiva de imprensa.
Após o anúncio, dois dos principais sindicatos agrícolas da França incentivarm os manifestantes e encerrarem os bloqueios nas estradas.
“Acreditamos que precisamos mudar o nosso modo de ação e, por isso, apelamos às nossas redes através dos canais nacionais para suspenderem os bloqueios e entrarem em uma nova forma de mobilização”, disse Arnaud Gaillot, presidente da Jeunes Agriculteurs.
Em um esforço para responder a algumas das preocupações da indústria agrícola, a Comissão Europeia propôs uma isenção “temporária” para os agricultores a uma regra da UE que os obrigaria a manter 4% das suas terras aráveis em pousio ou improdutivas para fins de biodiversidade.
Propôs também “renovar a suspensão dos direitos de importação e das quotas sobre as exportações ucranianas para a UE por mais um ano, reforçando ao mesmo tempo a protecção dos produtos agrícolas sensíveis da UE”.