O Ministério Público de Mato Grosso (MPMT) denunciou à Justiça Militar quatro policiais militares suspeitos de envolvimento em irregularidades relacionadas ao assassinato do advogado Renato Gomes Nery, ocorrido em julho de 2024, em Cuiabá. A denúncia foi apresentada na última quarta-feira (11), como parte das investigações da Operação Office Crimes: A Outra Face.
Os policiais Wailson Alessandro Medeiros Ramos, Wekcerlley Benevides de Oliveira, Leandro Cardoso e Jorge Rodrigo Martins haviam sido presos em março deste ano, mas foram soltos em maio, após decisão favorável de habeas corpus. Todos já são réus em processo na Justiça comum.
Segundo a denúncia do MPMT, os quatro PMs são acusados de forjar um confronto armado com supostos assaltantes para encobrir o envolvimento deles no assassinato. A arma usada no crime teria sido escondida e, posteriormente, inserida na cena desse falso confronto com o objetivo de atrapalhar as investigações.
A perícia realizada no caso apontou que não houve troca de tiros no local mencionado pelos policiais. Nem a viatura da PM, nem o carro dos supostos criminosos apresentavam marcas de disparos. Além disso, a origem da munição usada no assassinato foi rastreada até o batalhão da Rotam (Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas), onde os policiais investigados atuavam na época.
Os quatro PMs foram denunciados por organização criminosa, alteração de cena de crime, porte ilegal de arma de uso restrito e falsidade ideológica.
O g1 tentou contato com a defesa de Wekcerlley Benevides de Oliveira, mas não obteve retorno. Também procurou os advogados de Wailson Ramos, Leandro Cardoso e Jorge Martins, sem sucesso até a última atualização da reportagem.
Envolvidos no assassinato
Além dos policiais militares, outras seis pessoas também foram presas, acusadas de envolvimento direto na execução de Renato Nery. São elas:
Alex Roberto de Queiroz Silva (caseiro) – apontado como o executor;
Sargento PM Heron Teixeira Pena Vieira – intermediou o crime; recebeu o dinheiro, a arma e contratou o atirador;
Cabo PM Jackson Pereira Barbosa – entregou o dinheiro ao sargento Heron;
Ícaro Nathan Ferreira (inteligência da Rotam) – envolvido na entrega do dinheiro e da arma ao sargento;
Cesar Jorge Sechi (empresário) – um dos mandantes do crime, por disputa de terras;
Julinere Goulart Bastos (empresária e esposa de Cesar) – também mandante do assassinato.
Motivações e confissão
De acordo com a Polícia Civil, o crime foi motivado por uma disputa de terras. Renato Nery tentava transferir propriedades para as filhas e estaria sendo pressionado judicialmente. Conforme os depoimentos, o sargento Heron admitiu que recebeu R$ 200 mil para organizar o assassinato e repassou R$ 50 mil ao caseiro Alex, responsável pela execução.
O advogado foi alvejado quando chegava ao seu escritório na Avenida Fernando Corrêa da Costa, em Cuiabá. O atirador o aguardava em uma moto, atirou e fugiu do local. Uma câmera de segurança registrou toda a ação.
Simulação de confronto
Após o crime, o executor fugiu para uma chácara no bairro Capão Grande, em Várzea Grande. O trajeto foi monitorado por câmeras de segurança e, no dia 8 de julho, a polícia localizou imagens da moto a poucos quilômetros do esconderijo. Ao perceberem a aproximação da polícia, os suspeitos teriam simulado um confronto para “justificar” o abandono da arma usada no crime e tentar incriminar terceiros.
As investigações seguem em curso tanto na Justiça comum quanto na esfera militar.