Um novo estudo realizado nos Estados Unidos acendeu um sinal vermelho sobre a presença dos chamados “poluentes eternos” — substâncias químicas conhecidas como PFAS (substâncias perfluoroalquiladas e polifluoroalquiladas) — em produtos de consumo cotidiano, incluindo marcas populares de cerveja. A pesquisa, liderada pela Universidade Estadual de Oregon, analisou 65 bebidas diferentes, entre refrigerantes, energéticos e cervejas. O resultado: vestígios de PFAS foram detectados em praticamente todas as amostras testadas. Em algumas marcas de cerveja, os níveis ultrapassaram os limites considerados seguros pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA). Os PFAS são usados há décadas pela indústria por sua capacidade de resistir ao calor, à água e à gordura. Por isso, estão presentes em panelas antiaderentes, tecidos impermeáveis, espumas contra incêndio, embalagens alimentícias e outros produtos de uso diário. O problema é que essas substâncias não se degradam facilmente no ambiente — por isso o apelido de “químicos eternos”. Elas se acumulam no solo, na água e no organismo humano, podendo levar anos para serem eliminadas.
Estudos científicos já associam a exposição prolongada aos PFAS a uma série de efeitos adversos à saúde: distúrbios hormonais, imunológicos, disfunções metabólicas, infertilidade e maior risco de certos tipos de câncer. A presença de PFAS na cerveja pode estar ligada à água usada na produção ou aos processos industriais. A ausência de regulamentação específica em vários países — inclusive no Brasil — contribui para que essas substâncias entrem na cadeia alimentar sem controle ou transparência. “Estamos falando de uma poluição invisível, que não tem cheiro nem gosto, mas que está presente em larga escala no nosso dia a dia”, alerta o estudo.
Nos Estados Unidos, a descoberta já mobiliza a comunidade científica e órgãos reguladores. Em 2023, o governo americano anunciou novas diretrizes para reduzir a exposição aos PFAS na água potável. No Brasil, a questão ainda é incipiente. Estudos pontuais já detectaram PFAS em fontes de água e alimentos industrializados, mas a regulação ainda é frágil. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estuda incluir limites para essas substâncias nas normativas futuras.
A revelação de que até produtos como cerveja e refrigerante estão contaminados com PFAS amplia o debate sobre segurança alimentar e controle químico. Especialistas defendem que as empresas assumam maior responsabilidade na rastreabilidade dos ingredientes usados, e que os governos implementem normas claras para identificar, limitar e eliminar o uso dessas substâncias. Enquanto isso não acontece, a recomendação é: atenção à procedência dos produtos, consumo consciente e pressão por mais transparência.