Muitos dos aliados da França respiraram aliviados com o resultado das eleições, já que a ultradireita de Marine Le Pen não conseguiu vencer as eleições antecipadas no domingo (7), mas observaram que uma coalizão desordenada em um Parlamento suspenso também poderia causar dores de cabeça para a Europa.
O partido Reunião Nacional (RN), de Le Pen, liderava as pesquisas, aumentando o risco do primeiro governo de ultradireita da França desde a Segunda Guerra Mundial e ameaçando alterar a política econômica e externa da segunda maior economia da zona do euro.
Em especial, os aliados da Ucrânia temiam que um governo liderado por Le Pen pudesse ser brando com Moscou e reduzir a ajuda militar da qual Kiev depende desde a invasão russa em 2022, embora o partido dela tenha dito recentemente que a Rússia é uma ameaça.
A derrota do Reunião Nacional sinaliza pelo menos um recuo temporário contra o aumento da extrema direita na Europa, mas pode anunciar um período de instabilidade com um novo governo em uma “coabitação” desconfortável com o presidente Emmanuel Macron.
“Em Paris, entusiasmo, em Moscou, decepção, em Kiev, alívio. O suficiente para ser feliz em Varsóvia”, disse o primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, no X.
Macron convocou a eleição antecipada em uma tentativa de tirar a empolgação de Le Pen, mas seu próprio partido ficou atrás de uma aliança de partidos de esquerda que teve um desempenho muito melhor do que o esperado para ficar em primeiro lugar.
Várias das primeiras reações no exterior celebraram o fato de a ameaça imediata de um governo de ultradireita ter sido evitada.
“O pior foi evitado”, disse Nils Schmid, porta-voz de política externa dos social-democratas, do chanceler Olaf Scholz na Alemanha, onde a extrema direita também cresceu em popularidade durante uma crise de custo de vida.
“O presidente está politicamente enfraquecido, mesmo que mantenha um papel central em vista da situação pouco clara da maioria. A formação de um governo será complicada”, disse Schmid ao grupo de mídia Funke.
O partido do primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, parabenizou a aliança de esquerda, chamada de Nova Frente Popular, por uma vitória que “impede a ultradireita de chegar ao governo”.
Nikos Androulakis, líder do partido socialista PASOK da Grécia, disse que o povo francês “ergueu um muro contra a ultradireita, o racismo e a intolerância e protegeu os princípios atemporais da República Francesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade”
Uma autoridade da UE, que falou sob condição de anonimato, considerou a vitória um “grande alívio”, mas acrescentou: “o que isso significa para a Europa no dia a dia ainda está para ser visto”.
A eleição deixou o Parlamento francês dividido entre três grandes grupos – a esquerda, os centristas e a ultradireita – com plataformas diferentes e sem tradição de trabalho conjunto.
A esquerda quer limitar os preços de bens essenciais, como combustível e alimentos, aumentar o salário mínimo e os salários dos trabalhadores do setor público, em um momento em que o déficit orçamentário da França já está em 5,5% da produção, mais alto do que as regras da UE permitem.
“Adeus, limites europeus de déficit! (O governo) vai quebrar em pouco tempo. Pobre França. Ela pode se consolar com (Kylian) Mbappé”, disse Claudio Borghi, senador do partido de direita Liga, da Itália, referindo-se ao astro do futebol francês.
Outros políticos de extrema-direita expressaram sua frustração.
André Ventura, líder do partido de extrema-direita Chega, de Portugal, chamou o resultado de “desastre para a economia, tragédia para a imigração e ruim para a luta contra a corrupção”.
Uma nota da Capital Economics disse que a França pode ter evitado o “pior resultado possível” para os investidores, ou seja, uma maioria absoluta para Le Pen ou para os esquerdistas.
Um Parlamento dividido significa, entretanto, que será difícil para qualquer governo aprovar os cortes orçamentários necessários para que a França cumpra as regras orçamentárias da UE, afirmou.