Os contratos futuros do café saltaram nesta quinta-feira (10) após o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciar tarifas de 50% sobre o Brasil, o maior produtor mundial, abalando a indústria e arriscando um aumento de preços para os consumidores norte-americanos.
Os preços do café arábica negociados em Nova York subiram mais de 3,5% na manhã de quinta-feira em resposta à ameaça de Trump. O Brasil é o maior produtor mundial de café arábica, que é usado em bebidas de maior qualidade.
Em uma carta publicada no Truth Social na quarta-feira (9), Trump disse que os EUA aplicariam a elevada taxa tarifária ao Brasil a partir de 1º de agosto, acusando o governo do país de atacar a liberdade de expressão e orquestrar uma "caça às bruxas" contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Um comerciante ouvido pelo jornal Financial Times, mas que pediu anonimato, disse que a carta está enviando ondas de choque por toda a indústria do café, pois os EUA são o principal comprador de café do Brasil, o que impactaria todo o mercado com a inclusão do imposto.
Giuseppe Lavazza, presidente do Grupo Lavazza, que possui o café Lavazza, disse ao Financial Times na quarta-feira, antes da ameaça de Trump ao Brasil, que a tarifa norte-americana de 10% sobre produtos da UE estava "boa", mas tarifas entre os EUA e países produtores de café como Brasil e Vietnã seriam mais desafiadoras para as empresas de café e aumentariam os preços para os consumidores americanos.
"O problema não é ter tarifas entre América e Europa. O problema é ter tarifas entre EUA e Brasil, EUA e Vietnã, EUA e todos os países onde o café é produzido", disse Lavazza. "O resultado final será um aumento no custo do café nos EUA. Assim, o mercado norte-americano se torna mais caro para os consumidores."
Na quarta-feira, o diretor-executivo do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil), Marcos Matos, afirmou que o consumidor dos EUA será onerado com a tarifa de 50%.
"Temos a esperança de que o bom senso prevaleça e a previsibilidade de mercado, porque nós sabemos que quem vai ser onerado é o consumidor norte-americano. E tudo que gera impacto sobre o consumo é ruim para o fluxo do comércio, é ruim para a indústria", afirmou.
Segundo Matos, um dos argumentos vem do quanto o café movimenta na economia americana –o conselho calcula que US$ 1 (R$ 5,462 nesta quarta) de café importado gere US$ 43 (cerca de R$ 234) localmente; em empregos, o setor reponde de 2,2 milhões de postos de trabalho.
Os preços do café arábica e robusta estão elevados nos últimos anos, já que colheitas ruins nos principais países produtores do mundo, Brasil e Vietnã, reduziram os suprimentos e especuladores invadiram o mercado.
Os futuros de robusta de Londres, o benchmark global, atingiram um recorde de quase US$ 5.700 por tonelada no início deste ano, acima da média histórica de US$ 1.700, enquanto o preço dos grãos de café arábica de maior qualidade subiu 70% no ano passado para US$ 4,20 por libra.
Mas os preços do arábica e robusta recuaram de suas máximas nos últimos meses devido às esperanças de melhores colheitas.