Pré-candidato ao Governo de Mato Grosso, o senador Wellington Fagundes (PL) entrou em uma semana decisiva para seus planos futuros. E, pelo visto, com turbulência e dificuldades além do esperado, em meio a uma crise no partido que até contribuiria para reforçar sua postulação.
O parlamentar, que terá uma reunião, nesta semana, com o presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, vai ouvir o que ele já sabe, mas finge desconhecer.
Trata-se da preferência da cúpula do partido (leia-se: os Bolsonaro) pelas candidaturas do vice-governador Otaviano Pivetta (Repúblicanos) ao Governo do Estado e do governador Mauro Mendes (União Brasil) e o deputado federal José Medeiros (PL) para as duas vagas em disputa no Senado, em 2026.
Costa Neto vai posicionar o senador aliado, que é um dos fundadores do PL, que, se desejar manter sua pré-candidatura, não lhe será negado o partido. Mas, qualquer coisa além disso, estaria contrariando uma série de definições visando resultados considerados essenciais e fundamentais para a sobrevivência política do grupo e do partido. Inclusive, visando 2030.
Na verdade, o cacique bolsonarista vai assumir compromissos futuros com o senador, que terá mais quatro anos de mandato a partir de 2026, quando acontece a eleição geral no Brasil, e também sinalizará por entendimentos para os próximos anos, dependendo da postura a ser assumida pelo político de Mato Grosso.
Wellington se mantém pré-candidato por estar liderando as pesquisas de intenção de votos. Mas, analistas políticos lembram que pesquisas a 10 meses das eleições tendem a traçar uma expectativa que passa a depender de muitas nuances para se tornar realidade.
Principalmente, por estar o PL vivendo um crise interna, diante da falta de um líder maior, uma vez que Jair Bolsonaro cumpre pena de 27 anos e três meses, após ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado.
Lembrando que ele também já foi condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e se encontrava inelegível até 2030. Com a condenação, a inelegibilidade vai até 2060.
Valdemar da Costa Neto teria dito a um amigo muito próximo em Mato Grosso que a estratégia do PL passa pela vitória da direita nas eleições, mesmo sem ter a certeza de que ela possa acontecer em 2026. Mas, dificilmente, após dois mandatos da esquerda, ela deixaria de acontecer em 2030.
A extrema-direita, mesmo rejeitando até em pensamento a esquerda e o PT, passou a fazer a conta que beneficiou Lula, que se elegeu para o terceiro mandato em 2022 com 77 anos e caminha para um quarto mandato, que ocorreria com 81 anos.
Levando-se em consideração que Bolsonaro é 10 anos mais novos que Lula - completou, em março deste ano, 70 anos - e, se ele não puder ser candidato em 2030, já que as eleições de 2026 estão fora dos seu alcance, por ainda estar cumprindo pena, em 2034, o ex-presidente poderia tentar a disputa para presidente da República aos 79 anos.
Este seria um dos argumentos de Valdemar da Costa Neto, pois os mais otimistas do PL acreditam na eleição da maioria dos 81 senadores e dos 513 deputados federais, para impor novas regras e aprovar a tão sonhada anistia a Jair Bolsonaro. Isso lhe permitiria disputar em 2030.
A questão da anistia, se aprovada pelo Congresso Nacional, ainda passaria pelo STF, que já sinalizou desconhecer essa possibilidade, pois a condenação é por tentativa de golpe, um crime contra a nação.
Mesmo não sendo possível a anistia, a maioria no Senado poderia impor restrições, como um processo de impeachmet contra ministros do Supremo. - num caso todo espeecial, Alexandre de Moraes, relator do processo que condenou o ex-presidente.
De qualquer forma, até que se prove em contrário, Bolsonaro está fora das eleições de 2026 e, dificilmente alguns de seus herdeiros deverá conseguir reunir condições e unificar as oposições, em busca de uma disputa que tenha reais chances de vitória para a Presidência da República.
Os herdeiros são o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), até este momento candidato a reeleição; o (ainda) deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos EUA e pode ter o mandato cassado; o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), que está mudando o domicílio eleitoral, após sete mandatos dna Cânara carioca para disputar uma vaga no Senado por Santa Catarina; o vereador Jair Renan (PL-SC), dee Balneário Camburiú; e a esposa Michele Bolsonaro, que deve disputar uma vaga de senadora pelo Distrito Federal,
Os filhos de Jair pregam, em discursos, que uma eleição presidencial sem um Bolsonaro não teria legitimidade. E veem com restrição qualquer outro nome. Tanto é que o próprio Eduardo Bolsonaro hoje veta o nome de Mauro Mendes para o Senado de Mato Grosso com o apoio do PL, após rusgas e trocas de acusações mútuas, bem como o nome do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e maior aliado do ex-presidente, de quem foi ministro dos Transportes por quatro anos.
A Wellington Fagundes caberá decidir se mantém sua candidatura, mesmo correndo o risco de ser esvaziado dentro do próprio partido. Sem ter a certeza de que, mesmo com o aval da sigla, se teria as atenções da cúpula, que decide principalmente onde colocar os valores do fundo partidário, tão essencial nas eleições, ou se recua em nome de um processo maior e visando o futuro dodBolsonarismo e dele mesmo.
Em em 2022, o senador se aproveitou do processo de reeleição de Mauro Mendes e da "onda" força de Bolsonaro, que venceu a disputa em Mato Grosso, e conquistou praticamente sozinho o segundo mandato.
Analista lembram, ainda, que a ação dos bolsonaristas é sempre truculenta e conflituosa. E eles podem permanecer assim até o fim dos processo eleitoral. E isto pode levar a uma ruptura dos acordos e sinalizações feitas até o momento. Ou seja, até antes da prisão do seu líder maior.
A sinalização de Jair Bolsonaro em apoio a Otaviano Pivetta (Republicanos) como candidato a governador de Mato Grosso, e a Mauro Mendes (União Brasil) e José Medeiros (PL), as vagas no Senado parece assunto pacificado.
Resta saber como será o comportamento do eleitor, qu,e invariavelmente, gosta de contrariar acordos de cúpulas fechados a quatro paredes, naquele velho jargão político sobre os apoios escamoteados e distantes dos olhos públicos: "Combinaram com o eleitor?".


