A guerra entre Israel e o Hamas completa dois anos nesta terça-feira (7), em meio à mais promissora rodada de negociações de paz desde o início do conflito, em outubro de 2023. Delegações israelenses e palestinas se reúnem em Sharm el-Sheikh, no Egito, para discutir um plano de cessar-fogo elaborado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A proposta americana prevê a libertação dos reféns ainda mantidos pelo Hamas, a retirada gradual das tropas israelenses de Gaza e a formação de uma administração interina no território.
O Hamas aceitou parte das condições, incluindo abrir mão do controle político de Gaza e trocar os 48 reféns remanescentes por cerca de 2 mil prisioneiros palestinos. No entanto, o grupo não mencionou o desarmamento nem a supervisão internacional prevista no plano — pontos considerados essenciais por Israel.
O conflito começou em 7 de outubro de 2023, quando terroristas do Hamas invadiram o sul de Israel, matando cerca de 1.200 pessoas e sequestrando mais de 250. A resposta israelense incluiu uma ofensiva aérea e terrestre de grandes proporções na Faixa de Gaza, que, segundo a ONU, resultou em mais de 61 mil mortes palestinas, a maioria civis.
Fome e devastação em Gaza
O cenário humanitário é descrito por organismos internacionais como catastrófico. Em agosto, o Quadro Integrado de Classificação da Segurança Alimentar (IPC), ligado à ONU, declarou oficialmente estado de fome em Gaza. Mais de meio milhão de pessoas enfrentam condições “catastróficas”, sem acesso regular a comida, água e medicamentos.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, classificou a privação alimentar como um “crime de guerra” e cobrou um cessar-fogo imediato. O governo israelense, liderado por Benjamin Netanyahu, nega as acusações e atribui a crise à “má gestão do Hamas”.
A destruição é quase total: estima-se que quatro em cada cinco edifícios do enclave tenham sido danificados ou destruídos. O Banco Mundial calcula os prejuízos em cerca de US$ 30 bilhões. Com o colapso da economia, o desemprego chega a 80% e quase toda a população depende de ajuda humanitária.
Isolamento diplomático
Durante o segundo ano da guerra, Israel ampliou ataques a alvos ligados ao Hamas em países como Síria, Irã e Catar, o que aumentou seu isolamento diplomático. Países árabes que mantinham relações recentes com Tel-Aviv — como Emirados Árabes, Bahrein e Marrocos — expressaram desconforto. O Egito, que historicamente atua como mediador, chegou a chamar Israel de “inimigo” em setembro. Países como Brasil, Reino Unido, França, Irlanda, Canadá e Espanha estão aos mais de 140 que reconhecem o Estado Palestino.
Internamente, Netanyahu enfrenta protestos diários que pedem o fim da guerra e a libertação dos reféns. Ele tenta equilibrar-se entre as pressões populares e as resistências de aliados ultranacionalistas, como os ministros Itamar Ben-Gvir e Bezalel Smotrich, contrários ao cessar-fogo.
Trump se apresenta como “presidente da paz”
Ao propor o plano de paz, Donald Trump tenta se consolidar como mediador do conflito. O presidente americano enviou seu genro, Jared Kushner, e o enviado especial Steve Witkoff ao Egito para acompanhar as negociações. Trump afirmou que o Hamas está “pronto para uma paz duradoura”, mas diplomatas envolvidos nas tratativas ressaltam que ainda há incertezas sobre os pontos mais sensíveis — sobretudo o desarmamento e a governança futura de Gaza.